quarta-feira, 14 de janeiro de 2015


O TAEKWONDO NO BRASIL, MEU PONTO DE VISTA  - por GM Marcos Starling

Prezados Mestres, Instrutores e Atletas do Taekwondo Brasileiro.
Estive fora do país por 30 anos, mas mesmo assim continuei seguindo um pouco dos acontecimentos do Taekwondo no Brasil. E hoje, tendo retornado, acompanho mais de perto a realidade do Taekwondo brasileiro. Tenho consciência de que não sei de tudo o que vem ocorrendo com o esporte no Brasil,  porém me manifestarei sobre o pouco que presenciei nesse período, desde a minha volta...
Em primeiro lugar esclareço que dediquei minha vida ao Taekwondo, que já somam mais de 38 anos ensinando e estudando o Taekwondo de uma maneira aprofundada, buscando as razões de cada movimento, tratando o esporte como ele é de fato, uma escola em que se trabalha físico, mente e espírito. Fiz uma carreira de muito sucesso nos Estados Unidos, tendo sido elogiado e aclamado não só pelas autoridades daquele país, como também recebi o reconhecimento de expoentes  do esporte de outros países.
Não tenho interesses políticos nem gana pelo poder, de modo que não almejo ocupar lugar ou posição de ninguém, o que me move é a intenção de ajudar,  no que puder,  para melhorar e unificar o Taekwondo do Brasil, que hoje se perde em inúmeras ligas e federações, que abrigam bons mestres e bons atletas, mas que formam um emanharado que acaba por enfraquecer o esporte no Brasil. O Taekwondo é minha vida e  não meu meio de vida; possuo outras fontes de renda e como tenho dupla cidadania  posso escolher a qualquer momento em viver nos Estados Unidos ou me manter no Brasil.
Sei que posso contribuir para o  desenvolvimento do Taekwondo no Brasil pelo conhecimento da arte que acumulei em longos anos de estudo e prática, aos quais me dediquei inteiramente  e já pude constatar que muitos Mestres e Instrutores ainda não ensinam que essa arte é um conjunto que envolve o corpo, a mente e o espírito e que o aprimoramento técnico passa, necessariamente  pelo domínio do corpo pela mente e que isso se reflete também no espírito do praticante. Essa visão holística  faz parte do programa dos seminários que ministro e que busca resgatar os ensinamentos do Taekwondo Marcial, sua aplicação e também a  gestão de uma academia,  com muitas inovações em programas não conhecidos no Brasil.
No Brasil existem inúmeras ligas, federações, associações, situação que só traz discórdia e segregação de atletas, Instrutores e Mestres, algo inadmissível uma vez que  o “COI” (Comitê Olímpico Internacional)” só reconhece uma organização Mundial “WTF”, para o esporte e  esta, por sua vez, só reconhece uma Confederação por país e cada Confederação só pode ter uma federação por Estado, como todo esporte olímpico. Qual a razão para existirem tantas  federações e ligas se para ser reconhecido como Atleta ou árbitro nacional e internacional é necessário pertencer a Confederação reconhecida pela WTF, autorizado pelo COI? É assim que funciona nos EUA, Coréia e em muitos outros países que conheço. O Brasil tem boas academias com muitos atletas e excelentes Mestres, porém há também aquelas que não justificam o nome de academia de Taekwondo, pois são meras vendedores de faixas e de diplomas.
A raiz desses problemas está no caráter das pessoas, sob a forma de ingratidão, arrogância ou ganância – quase sempre de uma combinação dessas três deformações psíquicas -, alimentadas pela impaciência  e começa quando um aluno não se sujeita mais ao crivo de seu mestre, desrespeitando seu julgamento e exigindo aprovações em exames de qualquer maneira, como se o exame fosse mero formalismo, e uma vez contrariado, procura outro “mestre” que, mediante pagamento, lhe forneça o ambicionado diploma. Isso é um absurdo! Não por acaso, sempre que encontro um faixa preta pergunto-lhe “Quem é seu mestre?” e não “Qual o seu diploma?”
O julgamento sobre a excelência técnica e sobre o conhecimento do candidato à graduação no Taekwondo deve ser isento e balizado por quesitos pré-definidos e o graduando deve acatá-lo. Buscar em outro “mestre” uma satisfação do ego, com um diploma que não se justifica, que não vem ancorado  na boa técnica e no esmerado conhecimento é uma forma de enganar-se a si mesmo e dela decorre a má-formação dos alunos que serão treinados por esse “professor”. Pular um DAN, se o graduando tem tempo de faixa e qualificação técnica o é aceito, pois o WTF tem um programa para tal que se chama “Skip DAN Program”, mas ir para outro Mestre com objetivo de ser promovido sem ter qualificação técnica, isto se chama “comprar um status”. Assim como na vida acadêmica a  troca de orientador é permitida e não é desonrosa  desde que o seu mestre (orientador) original esteja sabendo e o tenha permitido. Respeito, cortesia, integridade e honestidade deve fazer parte das virtudes de um Faixa Preta.
Vejo também nas redes sociais Mestres e Instrutores postando certas coisa não dignas de um Mestre ou Instrutor, como por exemplo; postagens insinuando alguma coisa sexual, falando mal de outros Mestres com baixaria, promovendo alunos e instrutores não qualificados. Aqueles que tem o título de Mestre eu penso que pelo menos tem que ter o 2nd grau completo e se não o tem que o faça, pois o que falam nas redes sociais são de baixo nível de educação e civilização, não entendo como podem ter o título de Mestre?
Digo também que respeito todos os mestres e todas as artes, pois não há uma melhor que a outra e sim o praticante mal treinado ou mal instruído, o que faz a sua arte melhor é a sua dedicação e mostrar suas técnicas.
Já escrevi isto antes no meu facebook, e vou repetir;
Uma das lições que eu aprendi com a minha vida nas artes marciais é que um Mestre ou Grão-Mestre obtêm estes títulos não porque recebe um pedaço de papel que afirma essa qualidade. Um mestre deve se reconhecer como tal independentemente do título, quando perceber que suas habilidades e conhecimento são elevados  e seu caráter é tal que o impede de se tornar um impostor, um falso mestre, que pelo desconhecimento ou preguiça de buscar a verdade, repassam falsos ensinamentos, quando não sabem o que significa ou para que servem as técnicas e o verdadeiro efeito de suas habilidades. Um verdadeiro Mestre aprende observando e estudando o que os outros Mestres fizeram e o  ensinaram, através de leituras e pesquisas.

Os papéis se desbotam, se rasgam e se queimam, deixando de existir, portanto seu valor só existe aos olhos dos tolos. O conhecimento, o apuramento físico, técnico e mental é uma condecoração perene que nem mesmo a morte pode apagar, pois fica gravado no espírito de seu possuidor e o espírito, sabemos, é imortal. No Brasil precisamos mudar a maneira de pensar, valorizando os verdadeiros artistas que elevam essa sublime Arte Marcial e relegar ao esquecimento os seus exploradores, que a enxergam como um negócio apenas. Esses, provavelmente nunca tiveram  um papel que dizia “Eu sou o Grão Mestre Criador desta Arte”, a arte veio com a experiência dos efeitos das técnicas estudadas.
Estou perto dos 60 anos e afirmo que ainda estou aprendendo e quero aprender mais com os Mestres brasileiros. Devemos todos trabalhar para a unificação do Taekwondo no Brasil e assim, de maneira unificada reivindicar do Estado e da sociedade civil o apoio necessário para desenvolver o esporte e arrebanhar novos atletas, principalmente entre as crianças em estado permanente de risco, para as quais a prática de um esporte pode ser a diferença entre uma vida digna e a criminalidade. Nada é impossível e tudo é possível quando temos a atitude correta. PAZ para todos.
GM Starling, 7 DAN KukKiWon, “Nº 05019938, 20 March 2011” / Árbitro Internacional “Nº 038-0166”



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